Friday, March 14, 2014

Resposta 11. Käethe & Bernd

               Envolta pela bruma que distorcia imagens a se formarem diante dela, a jovem Käethe viu-se na plataforma de uma estação de trens. Seu coração acelerado sabia que ali, naquele exato momento, Bernd chegaria para por um fim a tão longa espera. De onde vinha? Que cidade era aquela? Para onde iriam? Ora, mas que importância tinha isto? Afinal, o seu Bernd vinha ao seu encontro.
               De súbito, o apito e o ranger das rodas freando nos trilhos. Agora, a plataforma repleta de pessoas. Gente que, como ela, tinha ido buscar gente que chegava. Lágrimas, sorrisos e abraços. Käethe procurava Bernd por entre rostos que surgiam e desapareciam, como se fossem flashs sucessivos e velozes de irreal galeria.
Mas eis que ele surge a seu lado, como que saído do nada, talvez da névoa... Olharam-se demoradamente, com a certeza daqueles que se amam. E lágrimas molharam seus sorrisos. Mas nada disseram. Apenas se jogaram nos braços um do outro, sem saber do tempo ou do lugar.
               E ganharam a rua, as praças, os parques... E dançaram ao som da música imaginária, até que se vissem girando numa roda-gigante que os transportou ao topo e de lá ficaram a apreciar estrelas. Nada, absolutamente nada poderia perturbar tamanha plenitude. Sem palavras, sem perguntas ou respostas. Nenhum constrangimento no silêncio que a tudo explicava sem pedir explicações. Silêncio que ampliava o sentir daquele momento único porque mágico e perfeito.
               O mesmo efeito mágico foi alcança-los a beira de uma praia de águas mansas e cristalinas, onde galhos de amendoeiras e palmeiras balançavam ao sabor da brisa soprada ao entardecer. Ali os dois brincaram na areia e se jogaram no mar, como se ainda fossem crianças travessas, reconciliando seus corpos com a paz da natureza.
               E caminharam... Caminharam em dimensão e tempo que jamais se exaurem, como se fora a trilha de uma vida inteira. Assim, passo após passo, viveram tudo o que a vida porventura lhes tivesse oferecido para ser vivido. E se sentiram inteiros.
               Aplacadas as ausências prévias, os profundos olhos azuis de Kaëthe procuraram os de seu amado e os dois se perceberam mais maduros, como que grisalhos, a flutuar numa bolha com o espectro do arco-iris. Onde estavam, nenhuma chuva, granizo ou neve; nenhuma seca ou enchente os poderia afetar. Nem calor, nem frio. Nem fome, nem dor. O desconforto não existia e tudo estava explícito: nunca mais ficariam separados. Agora exaustos de tantas procuras, se aconchegaram na tranquilidade da vida que enfim pulsava dentro deles.
               Depois, embriagados de paixão, adormeceram juntos por toda a eternidade.


Por Angela Lucena 

No comments:

Post a Comment