Envolta
pela bruma que distorcia imagens a se formarem diante dela, a jovem Käethe
viu-se na plataforma de uma estação de trens. Seu coração acelerado sabia que
ali, naquele exato momento, Bernd chegaria para por um fim a tão longa espera.
De onde vinha? Que cidade era aquela? Para onde iriam? Ora, mas que importância
tinha isto? Afinal, o seu Bernd vinha ao seu encontro.
De
súbito, o apito e o ranger das rodas freando nos trilhos. Agora, a plataforma repleta
de pessoas. Gente que, como ela, tinha ido buscar gente que chegava. Lágrimas,
sorrisos e abraços. Käethe procurava Bernd por entre rostos que surgiam e
desapareciam, como se fossem flashs sucessivos e velozes de irreal galeria.
Mas eis que
ele surge a seu lado, como que saído do nada, talvez da névoa... Olharam-se
demoradamente, com a certeza daqueles que se amam. E lágrimas molharam seus
sorrisos. Mas nada disseram. Apenas se jogaram nos braços um do outro, sem
saber do tempo ou do lugar.
E
ganharam a rua, as praças, os parques... E dançaram ao som da música imaginária,
até que se vissem girando numa roda-gigante que os transportou ao topo e de lá
ficaram a apreciar estrelas. Nada, absolutamente nada poderia perturbar tamanha
plenitude. Sem palavras, sem perguntas ou respostas. Nenhum constrangimento no
silêncio que a tudo explicava sem pedir explicações. Silêncio que ampliava o
sentir daquele momento único porque mágico e perfeito.
O
mesmo efeito mágico foi alcança-los a beira de uma praia de águas mansas e
cristalinas, onde galhos de amendoeiras e palmeiras balançavam ao sabor da
brisa soprada ao entardecer. Ali os dois brincaram na areia e se jogaram no
mar, como se ainda fossem crianças travessas, reconciliando seus corpos com a
paz da natureza.
E
caminharam... Caminharam em dimensão e tempo que jamais se exaurem, como se
fora a trilha de uma vida inteira. Assim, passo após passo, viveram tudo o que
a vida porventura lhes tivesse oferecido para ser vivido. E se sentiram
inteiros.
Aplacadas
as ausências prévias, os profundos olhos azuis de Kaëthe procuraram os de seu
amado e os dois se perceberam mais maduros, como que grisalhos, a flutuar numa
bolha com o espectro do arco-iris. Onde estavam, nenhuma chuva, granizo ou neve;
nenhuma seca ou enchente os poderia afetar. Nem calor, nem frio. Nem fome, nem
dor. O desconforto não existia e tudo estava explícito: nunca mais ficariam
separados. Agora exaustos de tantas procuras, se aconchegaram na tranquilidade
da vida que enfim pulsava dentro deles.
Depois,
embriagados de paixão, adormeceram juntos por toda a eternidade.
Por Angela Lucena
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