Reencontro
“Os dias se passaram...”... Sem que eu tivesse notícias de Bernd...
Não dias, mas uma eternidade dentro de uma menina que valsava dentro de mim com
brilho nos olhos, aflita e ao mesmo tempo esperançosa com que estava porvir. O
que eu desejava naquele momento era que o novo pudesse trazer o singelo que
havia existido em algum lugar longe de onde eu estava.
Em meio à ressaca das esperas
intermináveis, do ponteiro indiferente do relógio, de um sopro que emanava uma
alma cansada, de uma vida que eu precisava empurrar para não ser empurrada por
ela... A vida seguia seu fluxo.
Em uma tarde de chuva, li com
lágrimas nos olhos o trecho de um poema que encontrara ao abrir um livro com as
páginas marcadas pelo tempo, em letras miúdas, que dizia: “A arte de perder não é nenhum mistério, tantas coisas contêm em si o
acidente de perdê-las, que perder não é nada sério (...) é evidente que a arte
de perder não chega a ser mistério, por muito que pareça muito sério.”
“Valsando como bailarina...”
Aquele trecho ficara marcado em
minha memória durante muito tempo... E durante muito tempo eu valsei... Valsei
com o tempo como se fôssemos apenas nós dois, valsei com as lembranças que
ficaram em outro país, com as flores que me foram entregues naquele navio, com um
amor guardado em caixa de lembrança e fitas de cetim sem esperar as lacunas
deixadas com as incongruências do tempo. Valsei como uma criança que olha o
mundo pela primeira vez com poesia, em busca da delicadeza de cada manhã, ao
abrir a janela era por ele que esperava, era o sorriso dele que me fazia
levantar e seguir os dias...
“Acreditando em milagres...”
Bernd às vezes me dizia que: “A arte de viver é a arte de acreditar em
milagres”, referindo-se a Cesare Pavese, um escritor e poeta italiano. E segui meus dias acreditando neles, mesmo em
meio às incertezas de possibilidades, de uma vida e um destino do qual não
havia escolhido, de um livro cuja história ficara em aberto.
Talvez acreditar em milagres não me tornasse
outra pessoa, mas minhas esperas eram menos solitárias, pois ganhava do tempo o
direito de sonhar.
O mar onde tudo recomeça...
Nosso milagre aconteceu no
mar, em um dia azul de primavera, azul que contrastava com o brilho de nossos
olhos ao nos reencontrarmos. O mesmo que havia nos separado durante dois anos agora
nos unia com a força das ondas, com os pingos de água salgada que me faziam
fechar os olhos e querer girar, fechar os olhos e querer valsar para sempre
entregue em seus braços. Ali nos encontramos, nos abraçamos e valsamos...
Dedico à Käthe B.
Ellinger e Bernd Biermann, que em algum lugar, mesmo que distantes, se
encontraram... E a todas as possibilidades de encontro e desencontro das quais
vivemos em dias de guerra ou de paz.
“A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.”
One
Art, Bishop, Elizabeth. O iceberg
imaginário e outros poemas.
Por Larissa Lopes
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